E tu, qual é a tua nota?

Este assunto preocupa-me. Mesmo.
Porque tenho clara noção de que a eles os preocupa. Muito.
Porque sei que a ansiedade perante as situações de avaliação pode transformar o seu percurso escolar num verdadeiro inferno, minar-lhes a autoconfiança e com isso bloquear a capacidade de pensar o sucesso pessoal como a conjugação de múltiplos fatores, que não apenas os relacionados com a nota num exame.

Cada vez mais me deparo com situações de alunos que têm verdadeiro pavor aos momentos de avaliação, sejam eles testes, seja a apresentação de trabalhos de grupo, sejam exames nacionais ou questões-aula.

Corre entre eles a ideia, fomentada pelos adultos e pelo o sistema que os engole, que é através das notas que cada um mostra o que vale, que falhar uma batalha é perder a luta e que não há margem para negociações, nesta corrida desenfreada pelo melhor resultado.

A ansiedade pode manifestar-se a nível físico, cognitivo e comportamental, com impacto importante na capacidade do adolescente em gerir adequadamente os momentos de maior pressão e desafio. Esta incapacidade pode materializar-se, por exemplo, em comportamentos de evitamento e de procrastinação na preparação dos testes, bem como em dificuldades em gerir o tempo e em evocar a informação (as conhecidas “brancas”) durante a realização do mesmo. Para além disso e como “um mal nunca vem só”, são frequentes os pensamentos negativos e quase catastróficos: “Vou chumbar” ou “Nunca vou ser capaz de ultrapassar isto”, que em nada contribuem para a autoconfiança.

Reconhecer o impacto da ansiedade no bem estar psicológico dos jovens e, consequentemente, no seu sucesso académico, pode ajudar-nos a nós, pais e professores, a refletir sobre aquelas que poderão ser estratégias importantes no ultrapassar das dificuldades (enquanto a vida não mudar e não entendermos de uma vez por todas, o disparate imenso que andamos a fazer…):

* A adequada gestão do tempo, evitando o estudo intensivo na véspera dos testes, que apenas contribui para que se sintam mais cansados (interferindo com a qualidade do sono) e ainda mais nervosos;

* O recurso a técnicas de estudo facilitadoras, adequadas às diferentes disciplinas e o esclarecimento de dúvidas que possam surgir durante este processo;

* A tomada de consciência dos pensamentos automáticos e negativos, frequentes nestas situações e a sua substituição por outros, mais positivos. Ex: “Vou dar o meu melhor e vou ficar contente com isso”, em vez de “Isto vai correr mal e eu vou ter negativa”;

* A adopção de técnicas como o relaxamento muscular progressivo e a respiração profunda, que podem ajudar a desenvolver uma maior consciência corporal e a acalmar as manifestações físicas da ansiedade, para um nível em que se tornem mais fáceis de gerir;

* A prática de exercício físico e a realização de atividades que proporcionem prazer e ajudem a libertar as tensões diárias. É importante por isso enquadrar estes momentos na agenda semanal;

* A reflexão sobre os resultados obtidos, que ajude a integrar o insucesso como parte do processo e como uma oportunidade de aprendizagem e crescimento individual. Ex. Se o teste correu menos bem, é importante perceber se existem comportamentos que devam ser alterados (antes e durante o teste), para que sintam que é sua, a capacidade de superar as dificuldades na próxima oportunidade.

E finalmente, mas não menos importante:

* Falar sobre o assunto. E aqui o papel dos amigos e da família é, mais uma vez, fundamental. Para que se sintam apoiados e compreendidos, naqueles que são os seus desafios, os desafios de um mundo centrado na competição e no resultado, que todos os dias os põe à prova, e que pode, naturalmente, ser sentido como extraordinariamente assustador.

(Estas pistas são apenas uma espécie de penso rápido para um mal tão maior que espartilha e corrói alunos, pais e educadores, afastando-os todos os dias, e talvez irremediavelmente, daquilo que é efetivamente missão da Escola.)

 
 

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Eu, Rita.

Sou psicóloga e formadora com especialidade na área da saúde e da educação e trabalho como psicóloga escolar desde 2006, atividade que muito me preenche e me faz acordar todas as manhãs cheia de energia e vontade de continuar a aprender.

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