Pablo Neruda
Ter um filho.
Podemos começar por aqui.
Pela ideia que tantas vezes ouvimos acerca das motivações para a parentalidade: “Engravidei porque queria muito ter um filho” ou, “Desde miúda que sonhava ter filhos. Não um, mas muitos”, ou até, “A minha mulher sempre quis ter uma menina. Eu já me dava por contente por já ter o João.”
Ter um filho.
Pari-lo, alimentá-lo, cuidá-lo, mimá-lo. Dar-lhe o nosso melhor para que um dia se torne muito melhor do que nós, e assim nos afague o ego, nos redima de todos os lados lunares e se cumpra nas expectativas da pessoa que gostaríamos de ter sido.
Ter um filho.
Vinculá-lo a nós, amarrá-lo à ideia que temos de quem é, torná-lo refém da nossa aprovação, para que nos honre e se torne merecedor do nosso mais perfeito amor.
Desaprender.
Sentir o seu crescimento, a sua força de ser. A luz, que às vezes, de tão intensa, quase nos cega e nos faz tropeçar. Vê-lo desabrochar, sem saber ao certo de que cor serão as pétalas que lhe nascem por dentro. Descobri-lo. Ouvir a sua essência, celebrar a sua unicidade e permitir-lhe a liberdade de a experimentar de se experimentar, a cada descoberta feita.
Renascer.
Em quem somos e em tudo o que somos juntos. Um filho, que é afinal mestre de vida, capaz de iluminar os lugares mais esquecidos em nós, não só porque precisamos de os olhar e de nos relacionar com eles, mas também porque precisamos de os compreender, de os sarar e, progressivamente, nos tornarmos conscientes de quem somos, abrindo o coração à ideia de que este filho É, para além de nós.
Aceitar.
Olhá-lo como parceiro de jornada. Livre, meticulosamente perfeito na sua imperfeição, nas escolhas que faça, na personificação do seu espírito. Sempre, inspirado por tudo aquilo que queira ser e não pelo peso de tudo o que hão-de continuar a esperar de si.
É aqui que se aprende a amar incondicionalmente. Só aqui.
E é aqui, precisamente neste ponto de viragem e de consciência, que começa verdadeiramente a mais corajosa e transformadora viagem da nossa existência: Sermos pais.
Tudo, porque um dia sonhámos ter um filho.
Tudo, porque um dia fomos capazes de aprender que afinal, éramos nós que nos tornávamos para sempre seus…