Voltou feliz do Centro de Ciência Viva. Procurou a taça, o copo e o algodão para fazer outra vez magia com a experiência aprendida. Chamou-me. Encantada e com uma vontade incontrolável de o encantar, disse-lhe: “Uau, que giro!”, para rapidamente voltar ao que estava a fazer.
Depois do elogio nada mais aconteceu.
O sorriso soou-me pouco entusiasmado e eu não voltei a ver o brilho do espanto inicial. Resolvi voltar atrás e perguntar: “Isso foi mesmo giro! Gostava mesmo de aprender como se faz…” E num segundo, foi ver o rosto iluminar-se outra vez e as palavras a darem corpo à sensação feliz de se ser capaz e de se ser reconhecido por isso.
Usamos frequentemente o elogio como forma de mostrar amor e de o ganhar na satisfação imediata dos nossos filhos, mas o problema está precisamente nesta gratificação instantânea que pouco ou nada ensina e que muitas vezes serve de travão à comunicação, exatamente como aconteceu no início da história que aqui partilhei: “Gostaste? Boa, está tudo dito…”
O elogio sabe bem, mas o encorajamento consegue ir muito além dele e constitui uma ferramenta fundamental ao nível do desenvolvimento socioafetivo, com impacto significativo na auto estima da criança. Pensar na forma como comunicamos o valor que sentimos nos nossos filhos, procurando estimular a ligação emocional e o desenvolvimento de um sentido de capacidade e empoderamento a cada passo dado, pode significar-lhes a diferença no enfrentar dos diferentes desafios de vida e na autonomia e confiança necessário para os superar. Ora vejamos porquê…
O elogio é uma espécie de shot de felicidade. O encorajamento faz-nos fazer sentir capazes de abraçar todos os desafios;
O elogio salienta as coisas que temos, a forma como parecemos ou aquilo que fazemos: “Que desenho bonito!” O encorajamento permite aprendizagem e conhecimento: “Olha só as cores que usaste! Gostas muito de azul?”
Um elogio é uma avaliação: “Lindo menino! Arrumaste tudo sozinho!” O encorajamento ensina-nos mais sobre nós próprios e sobre os outros: “Obrigada por teres cuidado do teu quarto. Como te sentes por ter tudo mais organizado?”
O elogio celebra o produto: “Estás linda!” O encorajamento valoriza o processo: “Vejo que hoje escolheste a tua roupa sozinha e que isso foi importante para ti. Queres contar-me como o fizeste?”
O elogio alimenta o locus de controle externo: “O que é os os outros pensam?”. O encorajamento favorece a reflexão interna: “O que é eu penso sobre isto?”
O elogio tem como objetivo a conformidade: “Fizeste muito bem!”. O encorajamento promove a compreensão: “O que senti? O que aprendi?”
O elogio usa os outros como termómetro: “Mamã, hoje fui melhor que os outros, não fui?” O encorajamento faz nascer sentido de competência: “Mamã, sinto que hoje fiz um bom trabalho.”
As diferenças são muitas e conseguem muitas vezes notar-se no imediato, porque para além do sorriso radiante, o encorajamento acrescenta ainda o brilho no olhar e a certeza de que somos donos e senhores do que é preciso para continuar a experimentar o mundo.
É aqui que passamos a gostar de quem somos, mesmo que às vezes nem todos gostem de nós. E todos já sentimos na pele o quão é isto importante, não sentimos?