Não meus senhores, eu não entendo…

Não meus senhores, eu não entendo que as escolas promovam desfiles de vaidades (dos pais e da própria escola), com base nas notas dos testes, deixando de fora centenas de crianças que, só por serem crianças, mereceriam todos os louvores;


Não meus senhores, eu não entendo que se pense e se apregoe, que um aluno bem comportado é um aluno que se cala e obedece;


Não meus senhores, eu não entendo que se desista de uma criança apenas e só porque ela dá trabalho e esse trabalho cabe à família.


Não meus senhores, eu não entendo…


Mas há, felizmente, quem a mim me entenda.
E é graças a eles e a elas, e à forma como amam aquilo que fazem, à forma como superam o cansaço e a frustração das histórias difíceis que lhes caem ao colo, como não esquecem a enorme honra e a responsabilidade que trazem dentro e, sobretudo, à forma como reconhecem que têm em mãos o maior legado de todos, que a escola há-de conseguir TRANSFORMAR-SE.


E assim ensinar, a quem nela vive a acreditar que afinal, as pessoas, são mesmo o melhor que a Escola tem.

Não meus senhores, eu não entendo que se deixem as crianças ao portão da escola e não se possa sorrir ao professor, e aos funcionários e às outras crianças, desejando-lhes um dia feliz;
Não meus senhores, eu não entendo que as escolas se tenham tornado jardins de betão, sem terra, nem árvores, nem cor;


Não meus senhores, eu não entendo que a seleção dos profissionais que cuidam das crianças todos os dias, não obedeça a uma listagem extensa de critérios rigorosos, que mais não fazem do que procurar garantir-lhes o direito de crescer com os melhores modelos;


Não meus senhores, eu não entendo que se acredite que para aprender é preciso sofrer e que por isso se continue a mandar escrever 30 vezes: “Não volto a falar sem pôr o braço no ar!”;


Não meus senhores, eu não entendo que os programas curriculares se pensem de forma a espartilhar e a matar a criatividade do professor, impedindo-o de ensinar a paixão pelo conhecimento, vivendo-a;


Não meus senhores, eu não entendo que sempre que uma criança que se atrasa ou se engana num exercício da aula, fique proibida de ir ao intervalo e definhe, mais 30 minutos, sentada na mesma cadeira onde está cerca de 7 horas por dia;


Não meus senhores, eu não entendo que nos corredores das escolas se grite, se ameace, se mande caminhar em fila indiana encostada à parede, como se essa fosse forma de manter o controlo e de ensinar a crescer;
Não meus senhores, eu não entendo que uma família deixe de jantar tranquilamente ou de ir ao parque ou de ver filmes no sofá, só porque há três fichas de matemática, duas de estudo do meio e ainda um ditado para fazer.

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Eu, Rita.

Sou psicóloga e formadora com especialidade na área da saúde e da educação e trabalho como psicóloga escolar desde 2006, atividade que muito me preenche e me faz acordar todas as manhãs cheia de energia e vontade de continuar a aprender.

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