Sim, eu sei, às vezes não é fácil ser mãe ou pai de um/a adolescente (tal como não será fácil ser filho de um adulto…) mas a verdade é que, independentemente dos dias menos bons (desejáveis e necessários à transformação natural da família nesta etapa de vida), muitas são as razões que tornam tão incrível, a oportunidade de acompanhar os filhos na aventura da adolescência.
Daniel Siegel, é um neuropsiquiatra que nos últimos anos se tem dedicado a estudar o funcionamento do cérebro adolescente, cujas características e especificidades, considera fundamentais ao desenvolvimento humano. Para Siegel, é a “essência da adolescência” e a sua vivência positiva e plena, que permitirá ao cérebro manter-se saudável na idade adulta.
Assim, e para que não percamos de vista as maravilhas da adolescência, permitindo que se tornem luz e espaço para ser, cá seguem quatro bons motivos para querer tê-los por perto, e com isso, reaprender…
Gosto pela novidade, ou se quisermos, um saudável e apurado sentido de espanto. Relacionado com a ativação dos circuitos cerebrais que aumentam a sensibilidade para a procura de recompensas e sensações novas, é precisamente esta abertura às novas experiências, que alimenta o entusiasmo pela vida, a coragem para arriscar e a motivação para descobrir novas formas de realização pessoal, tão fundamentais a que um dia se sintam capazes de abandonar o conforto do ninho e construir o próprio caminho.
Intensidade emocional, alimentada pela experiência intensa dos diferentes estados emocionais que, nesta fase de vida, ainda se sobrepõe à racionalidade do córtex pré-frontal (desenvolvido por volta dos 20/25 anos). É esta vibração sonora dos diferentes estados de alma que tantas tempestades traz às famílias, desencadeando as tão conhecidas alterações de humor e a experiência de alguns momentos de grande reatividade, sobretudo perante as contrariedades ou as frustrações. No seu melhor, este arco-íris emocional proporciona aos adolescentes e a quem com eles convive, um enorme boost de energia e vitalidade, um sentido de entrega ao momento presente e uma excelente oportunidade de auto-conhecimento e auto-regulação.
Criatividade. Estimulada pelo conhecimento de que a realidade é o conjunto de todas as possibilidades, é a procura incessante de respostas e a criatividade no enfrentar dos desafios, que permite explorar o mundo, questioná-lo, testar as hipóteses e torná-las possíveis. “Experimentar o mundo ordinário como extraordinário”, contribui para desenvolver competências relacionadas com a proatividade e capacidade de adaptação e resolução de problemas e favorece o desempenho no campo das artes, da música, da ciência, trazendo descobertas únicas e crescimento pessoal.
Compromisso social. Na adolescência dá-se um pico de neurónios-espelho, células ativadas pela observação do comportamento dos outros e que levam à sua repetição. Para além disso, uma maior sensibilidade à ação da oxitocina, predispõe à criação de vínculos significativos com os outros. Na prática, ganha-se uma maior disponibilidade para estar em grupo e agir socialmente, o que permite o alargamento do mapa das relações sociais, tornando-as simultaneamente mais compensadoras e ainda, estimulando a procura de suporte comunitário, fatores altamente preditores de bem estar, satisfação e felicidade ao longo da vida.
E não é isto afinal que todos queremos para os nossos filhos?
Que se mantenham curiosos e criativos, que se sintam capazes de conquistar o mundo, que se emocionem com a vida e que descubram nos outros, parte importante da sua humanidade?
Não seria isto afinal que gostaríamos de ter preservado mais em nós?
Resgatemos pois a nossa essência e celebremos a oportunidade (e o adolescente que um dia fomos), junto daqueles que nos trazem a oportunidade e o privilégio de os ajudar a crescer.